"Há muitos anos, havia no Oriente, um velho mestre que morava num local de difícil acesso. Ele vivia numa caverna que ficava atrás de um imenso lago de água extremamente salgada e de tonalidade bastante escura. A única forma de chegar até ele era atravessando o lago, pois atrás da caverna havia um profundo abismo.
Como a fama de sua sabedoria já havia corrido o mundo, inúmeros candidatos vinham até ao velho mestre, pedindo que ele os aceitasse como discípulos. Embora o velho estivesse disposto a ensinar, sentia que para alcançar a sabedoria, seria necessário que o candidato provasse a sua dignidade. A prova por ele estabelecida era a seguinte: o candidato deveria atravessar o lago, sem utilizar nenhum tipo de embarcação, trazendo nas mãos uma flor de acácia. Se a flor lhe fosse entregue sem murchar, o candidato seria aceite.
Durante anos muitos tentaram, sem obter sucesso, porque devido à alta salinidade do lago, os candidatos sempre acabavam por deixar que a flor perecesse. A maioria deles tentava aproximar-se bem próximo das margens, pois acreditavam ser esse o melhor caminho. No entanto, tal trajecto só fazia aumentar o percurso, que por si só, já era bastante longo.
Certo dia foi até ele um jovem chamado Ovídio, também disposto a vencer o desafio. Ovídio era um jovem inteligente e suas intenções eram sinceras. O mestre desejou, no seu íntimo, que o rapaz fosse mais feliz que os demais, na execução da tarefa.
Ovídio já havia visto muitos de seus amigos tentarem a travessia sem sucesso, e sendo bom observador, percebeu que eles tentavam sempre nadar junto à margem. Decidiu então fazer um caminho diferente. Resolveu seguir a sua intuição e tentar o caminho do meio. Foi uma decisão bastante difícil, pois estando no meio de um lago tão extenso não seria possível retornar caso algo não corresse bem, mas a sua decisão estava tomada, e ele não pretendia voltar atrás.
Pegou na mais bela flor de acácia que encontrou e dirigiu-se para o centro do lago. Nadou uns poucos metros e, então, percebeu que o lago parecia ser mais raso no centro. Arriscou ficar em pé e logo viu que podia fazê-lo com facilidade. A partir daí caminhou, tranquilamente até à outra margem, onde o mestre já o aguardava, com um sorriso nos lábios.
Ao chegar, Ovídio entregou a flor intacta ao mestre, que a recebeu com alegria, dizendo:
- Hoje tu tiveste a tua primeira lição. Na vida, assim como tu percebeste ao atravessar o lago, o melhor caminho é sempre o caminho do meio. Em tudo o que fizermos na vida deve haver equilíbrio e moderação. Devemos ser moderados no comer, no beber, etc. É importante dar um passo de cada vez, sem pressa e sem saltar etapas.
Ovídio passou muitos anos como discípulo e, mais tarde, tornou-se ele próprio um mestre, o que aconteceu naturalmente, sem saltar etapas e seguindo sempre pelo caminho do meio."
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