quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O caminho do meio


 "Há muitos anos, havia no Oriente, um velho mestre que morava num local de difícil acesso. Ele vivia numa caverna que ficava atrás de um imenso lago de água extremamente salgada e de tonalidade bastante escura. A única forma de chegar até ele era atravessando o lago, pois atrás da caverna havia um profundo abismo.

Como a fama de sua sabedoria já havia corrido o mundo, inúmeros candidatos vinham até ao velho mestre, pedindo que ele os aceitasse como discípulos. Embora o velho estivesse disposto a ensinar, sentia que para alcançar a sabedoria, seria necessário que o candidato provasse a sua dignidade. A prova por ele estabelecida era a seguinte: o candidato deveria atravessar o lago, sem utilizar nenhum tipo de embarcação, trazendo nas mãos uma flor de acácia. Se a flor lhe fosse entregue sem murchar, o candidato seria aceite.

Durante anos muitos tentaram, sem obter sucesso, porque devido à alta salinidade do lago, os candidatos sempre acabavam por deixar que a flor perecesse. A maioria deles tentava aproximar-se bem próximo das margens, pois acreditavam ser esse o melhor caminho. No entanto, tal trajecto só fazia aumentar o percurso, que por si só, já era bastante longo.

Certo dia foi até ele um jovem chamado Ovídio, também disposto a vencer o desafio. Ovídio era um jovem inteligente e suas intenções eram sinceras. O mestre desejou, no seu íntimo, que o rapaz fosse mais feliz que os demais, na execução da tarefa.

Ovídio já havia visto muitos de seus amigos tentarem a travessia sem sucesso, e sendo bom observador, percebeu que eles tentavam sempre nadar junto à margem. Decidiu então fazer um caminho diferente. Resolveu seguir a sua intuição e tentar o caminho do meio. Foi uma decisão bastante difícil, pois estando no meio de um lago tão extenso não seria possível retornar caso algo não corresse bem, mas a sua decisão estava tomada, e ele não pretendia voltar atrás.

Pegou na mais bela flor de acácia que encontrou e dirigiu-se para o centro do lago. Nadou uns poucos metros e, então, percebeu que o lago parecia ser mais raso no centro. Arriscou ficar em pé e logo viu que podia fazê-lo com facilidade. A partir daí caminhou, tranquilamente até à outra margem, onde o mestre já o aguardava, com um sorriso nos lábios.

Ao chegar, Ovídio entregou a flor intacta ao mestre, que a recebeu com alegria, dizendo:

- Hoje tu tiveste a tua primeira lição. Na vida, assim como tu percebeste ao atravessar o lago, o melhor caminho é sempre o caminho do meio. Em tudo o que fizermos na vida deve haver equilíbrio e moderação. Devemos ser moderados no comer, no beber, etc. É importante dar um passo de cada vez, sem pressa e sem saltar etapas.

Ovídio passou muitos anos como discípulo e, mais tarde, tornou-se ele próprio um mestre, o que aconteceu naturalmente, sem saltar etapas e seguindo sempre pelo caminho do meio."

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